08/09/2014

Sobre a força de vontade



Willpower é um livro fantástico escrito por um psicólogo, Roy F. Baumesteir, e John Tierney, jornalista. O livro é um best-seller e está publicado em diversas línguas, entre as quais o português, pela Lua de Papel.

Willpower apresenta as conclusões de imensos estudos científicos realizados na área da força de vontade, muitos deles do próprio Baumeister. É portanto, um livro com muito suporte científico que fala sobre a importância do auto-controlo, para que serve, como é afectado, como pode ser trabalhado. Os estudos feitos nesta área são fascinantes e ao ler o livro consegui identificar-me com muitas situações - e agora compreendo melhor muitos dos meus comportamentos e aprendi ferramentas para, por exemplo, ser mais produtiva no trabalho e não perder tanto tempo ao fim da tarde a ver televisão. Aqui ficam então algumas notas da primeira metade livro (ainda não o acabei de ler e quando acabar, faço a segunda parte).

A grande mensagem do livro é que a força de vontade, que é a virtude que a maioria das pessoas gostava de ter mas acha que não tem, pode ser exercitada, tal como um músculo. A falta de força de vontade ou auto-controlo ou auto-regulação é considerada uma das maiores patologias sociais dos nossos tempos, responsável por comportamentos violentos e destrutivos.

Todos temos uma quantidade limitada de força de vontade, que vai sendo gasta à medida que é usada. Certas coisas provocam um declínio da força de vontade ainda mais depressa, como o stress, a fome... parece mesmo existir uma ligação entre hipoglicémia e criminalidade... 

Tomar decisões, mesmo que sejam decisões agradáveis, gasta a força de vontade. O problema de tomar decisões é ter que fazer escolhas - ao escolher uma opção, estamos a fechar as portas às outras opções, e é por isso que é difícil para muitas pessoas tomarem decisões importantes, como casar, ou escolher um curso superior. 

A capacidade de tomar decisões também é afectada pelos níveis de açúcar no sangue. Estudos mostram que é mais fácil tomar decisões depois de comer; a falta de açúcar diminui, portanto, a força de vontade e provoca uma incapacidade para tomar decisões (é por isso que muitos políticos são apanhados a fazer coisas que não devem...).

O primeiro passo para ter mais autocontrolo é estabelecer um objectivo - um só objectivo. O problema para a maioria das pessoas é terem vários objectivos e muitos deles entrarem em conflito (por exemplo, querer ser mais produtivo no trabalho e passar mais tempo com a família). 

O sucesso de métodos de organização e produtividade como o GTD também está relacionado com o autocontrolo. Quando temos coisas para fazer, como um projecto importante ou estudar para um exame, somos constantemente relembrados disso pelo nosso inconsciente. O que o nosso inconsciente está a fazer é pedir ao consciente para fazer um plano para resolver o problema em questão. Após fazermos o plano, o inconsciente deixa de enviar essas mensagens. Daí a importância de tirar tudo da cabeça, de organizar as coisas, de planear as nossas próximas acções. É por isso que o GTD é tão eficaz.

As pessoas fazem mais e melhor quando têm mais consciência de si próprias. Por exemplo, experiências mostraram que as pessoas postas em frente a um espelho ou a ser filmadas esforçaram-se mais por ter melhores comportamentos e responder correctamente a questionários. Uma pessoa com mais consciência de si própria (basta para tal que esteja em frente a um espelho) tem tendência a comportar-se mais de acordo com os seus valores em vez de seguir a opinião ou vontade dos outros. Parece que a autoconsciência evoluiu para ajudar o autocontrolo.

O segredo das pessoas que parecem ter muito autocontrolo - por exemplo, aquelas que conseguem sempre levantar-se cedo, fazer exercício físico, ter a casa sempre limpa e organizada - não é propriamente ter muito autocontrolo. O que essas pessoas fizeram foi transformar esses comportamentos benéficos em hábitos: numa fase inicial é necessário exercer o autocontrolo para conseguir saltar da cama às 5 da manhã para ir correr, por exemplo, mas ao fim de algum tempo isso torna-se um hábito e aí já não é necessário gastar o autocontrolo nesse comportamento, ficando autocontrolo disponível para melhorar outros comportamentos ou quebrar maus hábitos. É por isso que se costuma dizer que devemos adquirir um hábito de cada vez. Se levantar cedo é difícil e vamos aplicar toda a nossa reserva de autocontrolo nesse comportamento, não sobrará muito para adquirir ou modificar outros comportamentos logo a seguir...

Por outro lado, ao exercitar o autocontrolo numa área da nossa vida, há melhorias em todas as outras áreas. Por exemplo, nas alturas em que me levanto mais cedo, é mais provável que faça a prática de yoga e que coma bem ao longo do dia e geralmente sou mais produtiva no trabalho. Nas alturas em que não consigo levantar-me cedo, tudo o resto corre pior... Ou seja, há alturas em que tenho mais autocontrolo que outras...

Mas como manter o autocontrolo constante ao longo de anos ou de toda a vida? Motivação. É necessário motivação. Quando temos algo a provar a nós próprios ou aos outros, temos mais motivação e, portanto, mais força de vontade. Sem objectivos, sem nada para provar, a motivação e a força de vontade diminuem...

O maior problema do autocontrolo é mesmo este: como manter a disciplina ao longo da vida, em vez de dias ou semanas. Fazer um pré-compromisso connosco próprios ajuda. Por exemplo, ao pôr no papel que vou fazer isto ou aquilo, faço um compromisso comigo própria e falhar não é opção. Comprometer-me a fazer algo (seja perante mim ou outras pessoas) é uma estratégia para conservar a força de vontade...

Outros estudos interessantes mostraram que há uma ligação entre a ordem exterior (um espaço de trabalho arrumado, o aprumo pessoal) e a disciplina. É por isso que os conselhos para uma maior produtividade incluem sempre ter uma secretária arrumada, papéis organizados, e quem trabalha em casa deve-se vestir e arranjar como se fosse para a rua.

Os maiores benefícios de ter autocontrolo são óbvios a nível escolar e laboral. Bons alunos e bons trabalhadores têm bons hábitos. Estudos mostram que os professores universitários têm mais hipóteses de progressão na carreira se escreverem um pouco todos os dias do que se escreverem de vez em quando ou em períodos curtos e intensos (isto nos Estados Unidos, que cá as coisas funcionam, infelizmente, de forma muito diferente...). O autocontrolo deve ser usado para formar um hábito (neste caso, o de escrever um pouco todos os dias). Depois do hábito formado, consegue-se produzir mais com menos esforço.

(parte II daqui a uns dias...)



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4 comentários:

  1. Adorei Rita, obrigada por compartilhar

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  2. MUito interessante. Muito obrigada por este resumo, que me deixou curiosa acerca do livro. O parágrafo acerca da tomada de decisões fez-me lembrar um artigo muito interessante que li há uns meses atrás sobre um tema semelhante: a fadiga cerebral causada pela tomada de decisões e como isso influencia as decisões que tomamos, é interessante e assustador ao mesmo tempo:
    http://www.nytimes.com/2011/08/21/magazine/do-you-suffer-from-decision-fatigue.html?pagewanted=all&_r=1&

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  3. Puxa Rita, seu texto caiu comoumaluva n minh situação atual.
    Estudando muito para um exame e trabalhando mais de 44 horas por semana, só com muita força de vontade e motivação.
    Não está fácil, mas acho q estou conseguindo. E muito tenho que agradecer às suas palavras sempre motivadiras.
    Bjo,
    Camila

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  4. Rita, sempre a partilhar coisas excelentes e muito interessantes :) Adorei ler, até porque sou uma pessoa que precisa constantemente de autocontrolo... Realmente conseguirmos motivar-nos é o mais importante!
    Obrigada e fico à espera da segunda parte!
    Beijinhos, Ana Rita

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